sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Queda Avó; Principal Objetivo de Vida

A minha avó andava devagar, com algumas dificuldades, mas conseguia se levantar da cama, ir à mesa tomar as refeições, estar um bocado sentada ao pé de nós. Tudo mudou quando durante a madrugada caiu e fraturou a anca, não conseguiu subir um degrau da casa de banho, caindo para trás. Maldita casa, que não é plana e está cheia de armadilhas. Eu já previa que isso um dia podia acontecer, da maneira que ela de vez em quando se movia, aos tremeliques. Procuro as causas e maneiras de poder ter evitado este acidente. Ela mudou recentemente de medicação, foi por causa disso?  Ela estava a comer melhor, a engordar, será que o maior peso lhe provocou mais dificuldade a andar? Se tivéssemos afixado um suporte naquele sitio como colocámos em outros lugares... olho para ela e o meu coração torna-se pequeno ao ver o seu sofrimento, grita com dores, vê-la é uma aflição, parece que envelheceu 5 anos, de um dia para o outro, respira com dificuldade, de boca aberta, lábios secos. Preocupado também com o cérebro dela, às vezes fala bem, outra vez parece que está desorientada desconhecendo onde está e o seu estado atual. Sinto que com esta queda vai perder anos dia vida, será que alguma vez recuperará? Pergunto-me, e se tivesse acontecido quando estava cá sozinho com ela? Como me ia safar? Não deixa dormir o pessoal com os gritos que dá durante a noite. Para complicar, estamos no Inverno, na altura de maior frio. Chamámos a ambulância de manhã, esteve no hospital o dia todo a realizar os exames. Aconselharam a não irmos lá, uma vez que teríamos que aguardar cá fora. Á noite teve alta e ligámos aos bombeiros para ir buscá-la. Quando disseram alta, fiquei contente pois pensei que não fosse tão grave. Não falámos com o médico, apenas lemos o relatório onde ficámos confusos com o palavreado muito técnico, levantámos os medicamentos da receita e procedemos como o descrito. Não compreendo como ela não ficou internada uns dias, com pessoas que têm formação para cuidar dela. Está uma miséria o sistema nacional de saúde. Tivemos imensa dificuldade em colocá-la em casa, principalmente a subir os degraus, com pouco espaço de manobra, tiveram que ser 4 homens a levantar a maca. Um deles era eu que sou um fraco, esforcei demasiado e a tenho a sensação que a minha tendinite piorou. Estamos a pensar que a melhor solução talvez seja interná-la num serviço de cuidados continuados, mas nesta altura deve ser difícil arranjar vaga, para além de ser caro, teríamos que gastar as poupanças dela.  Lá estava melhor, com gente habituada a tratar destes casos, mas por outro lado não sei iria gostar, pensando que a íamos abandonar e eu também me sentiria mal. Não gostei da forma com que o meu tio lidou com  a situação, só dizia em tom de critica "em bem avisei que devia caminhar mais", até pode ter razão mas não vale a pena estar a dizer isso a uma pessoa já fragilizada, falando sempre como se fosse um fardo. Ainda por cima este acidente aconteceu uns dias antes de completar mais um aniversário, um dia que devia ser de festa e que agora vai ser de tristeza. No escritório fui incapaz de desabafar com alguém. Por que não consigo? Tenho medo das respostas? Que sintam mais pena de mim?

Ela ainda tem alguém que possa tomar conta e eu quando precisar? É triste que o meu principal objetivo de vida é poupar para ter dinheiro para poder enfrentar a velhice com maior tranquilidade, mas negando assim o prazer de viver, ter a minha independência, ter bens materiais melhores, como um carro, tecnologia, maior conforto, viajar, etc. Mas se chegar a velho terei a mente suficiente forte para suportar uma vida de dependência dos outros? E se tiver uma doença repentina? Todos os ganhos que acumulei vão-se perder, ficarei de rastos. Não é tarde para gerar uma família, mas os minha personalidade não me deixa.