Cá continuo na minha vida penosa, solitária sem conseguir interagir de um forma normal com as outras pessoas. É um pesadelo quando vai lá gente ao escritório, infelizmente cada vez mais recorrente, não consigo criar uma ligação com ninguém. Várias personalidades diferentes, todos são amigos de todos, menos eu que procuro refugio na minha secretária olhando para o monitor, tentando-me concentrar, sem sucesso. Tenho medo de falar até com os meus colegas mais próximos, temo que diga asneiras e que depois troçam de mim. Não sei que tema abordar, desenvolver, vejo os outros a fazê-lo e o meu coração fica mais apertado. Só fico feliz quando estou sozinho, ouvir a música que me apetecer, estar à vontade sem os condicionalismos dos outros que me prendem a minha liberdade. Sou tão fraco, incapaz de enfrentar os desafios que se adivinham e que penso de uma forma angustiante. Por exemplo o que fazer quando o meu pai falecer e me der a herança dos terrenos? O que fazer quando a minha avó falecer? Não posso continuar nesta casa para sempre! Tudo me parece tão complicado, que a solução mais fácil é desaparecer, mas nem isso tenho coragem de fazer porque no fundinho tenho esperança que um dia nasça um novo eu capaz de dar a volta à situação.
Pensei que as coisas com a minha colega voltassem à normalidade, mas não, tenho a sensação que ela mudou de comportamento para comigo, acho que já não quer a minha companhia. Antigamente trocávamos muitas mensagens, agora nada, talvez a culpa seja minha pela vergonha que estou a sentir, na verdade eu é que começava sempre as conversas. No outro dia pedi-lhe para passar pelo escritório para lhe entregar uma encomenda, mas ela negou, disse para alguém a levar.
Agora com mais família por cá, temos realizados mais convívios ao fim-de-semana. Dia de churrasco, os homens lá fora a grelhar a carne, as mulheres a preparar o resto, eu sem fazer nenhum, sem saber como ajudar. Os miúdos vidrados no portátil ou no smartphone não me ligam nenhuma, só queria estar em casa a ver o jogo do Manchester United. Vou para a mesa como e calo-me. Não consigo projectar a minha voz num ambiente barulhento, faço um ou outro comentário, não digo mais que 3 palavras. Um dos que lá estava não concordou com um desses comentários e olhou para mim começou a falar vários minutos seguidos, não conseguia responder intimidado, apenas queria que olhasse para outra pessoa para continuar a conversa. É triste viver assim.
Os meus tios ao contrário de mim falam imenso. Oiço, oiço, oiço e eu mal abro a boca. Algumas dessas conversas metem-me "nojo" e são insistentes. Não respondo para não criar conflitos, ia perder sempre pela minha falta de capacidade oral. Por exemplo falam muito do dinheiro desnecessário que se gastou por exemplo em roupas, carpetes, loiças de cozinha, etc e que não temos nada de jeito em casa. Até concordo com o que dizem, mas metem as culpas em mim como se fosse o culpado que me deixa lixado. Sabem bem que eu tenho um estilo de poupar não de gastar. Tenho que ter coragem de opinar, existe uma situação que tenho que me abrir com eles, mas receio a sua reacção...
