quinta-feira, 15 de abril de 2021

O meu primeiro estágio

Brevemente vamos receber estagiários de uma escola profissional. Em cerca de 20 anos é a primeira vez que a empresa os recebe, pergunto-me porque nunca procurámos esta mão-de-obra "gratuita" ou será que a vamos pagar voluntariamente? Fez-me recuar ao meu passado e lembrar-me como correu a experiência do estágio que realizei através da escola. Todos os alunos tinham obrigatoriamente de realizar um mês de estágio numa empresa. O meu orientador calhou ser o professor mais "FDP" da escola, era o único aluno que ia tê-lo como orientador e ameaçou que estava lixado e que ia fazer várias visitas a inspecionar o meu trabalho. Tinha na altura 17 anos, fui estagiar para um loja pequena. Os donos eram um casal, ele trabalhava na área de informática enquanto ela fazia a parte da contabilidade. Cheguei todo envergonhado, ele perguntou-me o que podia fazer, já não me lembro muito bem da conversa... resolveu instalar um computador na loja para elaborar uma base de dados. Colocou um monitor numa prateleira, muito acima do meu nível de cabeça, não sei como na altura não tive problemas de torcicolos. Depois de sair do autocarro fazia uma longa caminhada até o local. Eles não cumpriam horários, às vezes chegavam a meio da manhã. Esperava impacientemente, não havia smartphone, não havia entretenimento, deambulava pelo pequeno centro comercial. Todo o dia no computador, sem internet, o tempo não passava, das maiores secas que apanhei na minha vida. A loja tinha duas divisórias, ele nunca me deixou entrar no compartimento onde arranjava os computadores, não tinha confiança em mim. Na altura do aus das gravações de cd's, era uma das principais fontes de rendimento, uma vez disse que andavam a desaparecer cd's graváveis perto de onde eu estava, não sei se me estava a acusar de alguma coisa. As tarefas que me davam para executar eram quase nulas, por isso o tempo passava devagar. Das minhas memórias lembro-me de desempacotar cd's, de me mostrar um modem queimado, de uma vez ir ao contentor do lixo procurar uma factura, fui  um hotel assistir a uma apresentação, que depois não soube comunicar ao dono o que se tinha lá passado, devem ter sido os momentos altos. Praticamente sozinho o tempo todo com a mulher, onde as conversas eram quase inexistentes. De vez em quando íamos ao café e eu sempre calado. Imagino o que não terão pensado. A melhor altura do dia era o almoço, saía de lá, espairecia e ia comer a um restaurante. O pior foi não aguentar até ao final, estava-se a tornar um pesadelo. Pela primeira vez na vida simulei que estava doente, nunca o tinha feito, nem na escola, como um cobardolas que sou mandei a minha mãe avisar. Uma vez até inventei uma história que uns ciganos me tinham assaltado só para não ir, pensava que ia ser uma história inocente mas espalhou-se por toda a escola e fui confrontado em plena sala de aula. Fiquei tão embaraçado pela mentira, jurei nunca mais. Sabia que alguns colegas tinham recebido pagamentos, um deles disse-me 20 contos. No final perguntei quanto custava uma webcam, ele disse que era quanto quisesse dar. Ficou no ar, não tive coragem de receber algum pagamento pelo estágio, no fundo sei que não merecia, mas também ele podia dizer que me dava. Quanto ao "malvado" do orientador nem se lembrou de mim, foi lá uma vez e foi por outro motivo. Na brincadeira disse "não me digas que tiveste todo o estágio a trabalhar assim ",  falando do monitor estar demasiado alto. Atitude completamente diferente do que apresentava na escola. 

Não aprendi nada, foi tempo perdido, pelo menos no relatório de estágio deu-me muito bom. Nunca mais voltei àquela loja. Anos mais tarde, passei por lá por curiosidade, vi que a loja estava fechada, não sei se faliram ou se mudaram de sitio. Depois de escrever aqui deu-me curiosidade e vou pesquisar informações... Ainda estão abertos, é obra uma pequena empresa aguentar-se mais de 20 anos no mercado. Mudaram de sitio, não para muito longe de antigamente, agora estão num local mais visível. 

domingo, 4 de abril de 2021

Convívio Páscoa; Horta; Gatas

Convívio de páscoa. Almoço com os meus primos chegados, ocasião e timing ideal para lhes falar do apartamento. Várias vezes  pensei em falar mas depois recuava, finalmente ganhei coragem para tocar no assunto. Se não tenho confiança com os mais chegados fará com desconhecidos! Tenho medo de quê, alguém me explica? Uma conversa que não gostei e alertou-me para vários "perigos". Primeiro deram a entender que não vão buscar as coisas ao apartamento tão cedo, naquela conversa típica, "tem que se ver", "lá para junho tenho uns dias de férias". Sou eu que vou ter que me mexer, se serei capaz, duvido? Alertou-me para algumas questões, por  exemplo que devia meter um pavimento novo com uma membrana acústica, pois a vizinha de baixo está sempre a queixar-se do barulho. Logo eu, que gosto de colocar de música alta e dar uns passinhos de dança, não estou habituado a usar phones. Mais uma contrariedade, mais um senão em mudar. Paredes em gesso cartonado com lã de rocha para melhorar o isolamento. Mudar  a mobília antiquada da sala, realmente aquele armário que lá está é um monstro e faz roubar muito espaço, talvez a melhor opção seria fazer aí a divisão de escritório/lazer, acho que fiz merda. Com tanta alteração quase mais vale comprar um apartamento ou uma moradia nova, com uma construção mais recente. Fez-me refletir na péssima escolha que fizeram em comprar aquele apartamento. Aposto que foi o meu tio que decidiu, a minha mãe terá acordado como sempre. Afinal o que é que aquele apartamento tem de bom? 2º Andar, sem elevador,  sem espaço exterior, isolamento deficiente, quando gastarei para tornar o apartamento confortável para viver?  Queria discutir com o meu tio, e dizer-lhe a asneira que fez. Comprar aquele museu com tanta antecedência. O pior é tenho a liberdade para procurar outro local, escolhido por mim, mas não sou capaz... A raiva que sinto contra mim próprio é demasiado grande para conseguir aguentar.

Ao fim de comer fomos para a sala demasiado triste, sem conversa, todos mexiam nos seu smartphone. Rapidamente fiquei entediado, só queria ir para casa e desfrutar da minha solidão. Angustiei quando vi que a culpa era minha, não sei puxar conversa, todos os convívios são e serão um massacre para mim. Se antigamente procurava refugio nas crianças e brincava com elas, agora que elas só ligam ao computador e smartphone não tenho ninguém em carne e osso para passar tempo. Saudades daquelas tardes bem passadas com eles, agora nem isso tenho na minha vida. Como consigo viver assim?

Comprei umas sementes de tomate cereja e vou experimentar semeá-las,  possivelmente vai ser um projeto falhado, visto ter pouco conhecimento. Arranjei um espaço, tive a raspar as ervas daninhas, e abri uns buracos para colocar lá as sementes. Não sei se é assim o procedimento, nem sei quanto tempo demorará a florescer, mas se não der em nada também não fico preocupado. Durante estes anos todos por que nunca me dediquei a criar uma horta no meu pequeno quintal? Podia plantar alfaces, cebolas ou colocar flores bonitas. O solo parece ser bom, uma vez que crescem muitas flores sem tratar delas. Nunca me aventurei a isso e agora meses de sair daqui arrependo-me de não ter feito. Aposto que o meu tio vai criar uma horta engraçada e humilhar-me.

Duas gatas sem dono que alimento. Não têm confiança com os humanos, tenho pena de não lhe poder dar uma festa de vez em quando. Uma delas acabou de parir e trouxe já um recém nascido para aqui.  Preparei uma caixa para ela ter um lugar para os colocar, pode ser esta q minha oportunidade de ter um gato que não seja "selvagem", habituar-se logo desde pequeno à minha presença. Mas para quê? O meu tio não gosto de gatos e vai expulsá-los, vou ter tanta pena deles. Levar algum para o apartamento é complicado para mim, não se conseguiria cuidar conta dele.